terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Carta: "Conclusões óbvias"

Série "Cartas Perdidas", Nº 15


Araxá/MG - 15 de Maio de 2002


Costumava sempre te dizer que as pessoas, sabe, elas inevitavelmente apaixonam.

Sim, isso vai acontecer independente do quão frio ou quão soberbo você for. A frequência  que isso acontecer vai depender da maleabilidade do seu coração e seus sentimentos, porém curiosamente o quão mais duro for o coração e o quão menos maleável forem os sentimentos, mais forte e marcante vai ser essa paixão que vai surgir. 

A inerência da impenetrabilidade torna aquilo que a penetra algo indubitavelmente forte.

Visto isso e tendo em vista o que (pouco) já vi, a gente vê que as reações são realmente claras.

Em uma contrapartida, você mesma disse uma vez que “gosta de minhas palavras”, por mais que eu tenha serias duvidas a respeito disso.

Um refúgio, uma ilha em um oceano desértico de confirmações do que eu já nem me preocupo mais, muito me espanta você gostar de “palavras”, pois de igual forma eu também gosto muito de “palavras” de pessoas que já se foram a praticamente 400 anos atrás, como o próprio Shakespeare, o qual escreve “Pois as graças do mundo em abandono, Morrem ao ver nascendo a graça nova. Contra a foice do Tempo é vão combate, Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.”.

Porquanto muito lhe são aparentadas as palavras de pessoas românticas que outrora existiram, hoje nem existem mais. Porquanto muito é interessante eu pensar que, enquanto embalado por baladas românticas oitentistas eu penso que utopia é realidade, mas eu obviamente sei que não é.

E como posso concluir, não sou nem mesmo o mais conhecido, mais bonito, mais romântico, mais habilidoso, nem a melhor pessoa que vai passar pela tua vida, tirando o fato de “passar pela tua vida”, sendo que sequer passar, só vou despejar meu niilismo eterno de saber que conforme profetizado por  “versos íntimos” como foi dito em “Vês! Ninguém assistiu ao formidável, Enterro de tua última quimera.” 

Algumas poesias niilistas fazem todo sentido e  que conduz-se facilmente a crença alheia quando se tenta direcioná-las no rumo de suas tendências naturais: seus desejos e medos, e as pessoas acreditam facilmente no que temem e no que desejam, não há conclusão.

E quando um "eu te amo" não é mais realmente um "eu te amo" porque ele foi jogado ao vento, esquece e desconsidere.

Não há conclusão senão a óbvia por trás dessa carta tão prolixa.



"um mundo de água onde você sabe que morrerá de sede se nele ficar, algo sem fim sobre o próprio fim de algo."



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Carta: "Não é a imagem que eu tenho de você, é você!"

Série "Cartas Perdidas", Nº 14


Água Clara/MS - 10 de Setembro de 1999

É algo que praticamente ninguém nota, praticamente é ninguém mesmo, mas não quer dizer que inexista, mas sim tem a ver com o quanto eu escondo isso de tudo e de todos. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta o que posso descrever como uma "ebulição" dentro de mim, e mais aumenta a graça em poder te viver!

E a simples expectativa de ter você por perto, de só de saber que você está na iminência de trocar um olhar comigo? O coração dispara, e em atropelo ele quase para, algo infantil, quase primitivo.

E cada vez que você estava, perto ou não, pode estar cada vez mais forte dentro de mim, coisa rara de acontecer, você martelando em minha mente 24h por dia, e fazendo meu coração martelar ainda mais forte, por consequência.

Você me olhou? Com os olhos olhava o que eu não sei bem, olhos de águas vindas de outros oceanos. Quem sabe seria com você, que eu poderia ter todas as tardes, aquelas que sempre me faltaram, como miragens, como invenção. Se eu não posso ter, eu fico imaginando, eu fico me perguntando, se as simples palavras, pois sei que são meras palavras, causam algum efeito sequer em você. 

Portanto tudo isso que eu sinto, tudo é algo que cresce sem meu consentimento. Desculpa, não pude impedir. Eu amo você.


"eu nunca vou me despedir de você"

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Destruidora de Mundos

Série "Poesias e Devaneios", Nº 31


Lembro bastante, como esquecer? Cada traço de lembrança sórdida.
100 milhões de toneladas do puro ódio. 
Lenta e silenciosamente rastejou para cima…
Lenta e silenciosamente tornou tudo a nada...

E misturando-se a camadas mais grossas das nuvens, prosseguiu a subir e a aumentar. 
Parecia sugar toda a terra nele. O assombramento foi fantástico, irreal, sobrenatural.
Enorme clarão sobre o horizonte, e após longo período ouve-se um sopro distante e pesado. 
Como se a terra tivesse sido morta

A neve derreteu, as bordas e as rochas ficaram brilhantes como se fosse lapidadas. 
Não há um traço desigual sequer, tudo moldados por mãos divinas talvez.
As nuvens a uma grande distância abaixo e acima foram iluminadas pelo clarão do fogo.
E por um instante tornaram-se transparentes.

A propagação da luz incandescente sobre o mar. 
Impressionante indizível.
Nesse momento por maior e mais grosseiro que fosse, tudo se tornou tão delicado como pétala de rosa.
Por um instante, um pico segundo, pra depois os sonhos dissolver.

Sabíamos que o mundo não mais seria o mesmo. 
Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria ficou em silêncio.
A alma se desnuda no puro ardor hecatombico.
De longe, ou de perto, não importa.

Nada mais importa, o amor, a dor, a esperança, saudade e sonho.
Nada mais importa, fundem-se corpo e alma em fogo puro. 
Agora, eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos...
Suponho que todos nós pensamos isso, de uma maneira ou de outra...


"A esfera era tão poderosa e tão arrogante como Júpiter."


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Alegria se tornou efêmera?

Série "Curtas", Nº 25


Acabo me lembrando de como a alegria se tornou complicada de ser sentida. Era tão simples e agora é complicada, muito complicada.

Simplesmente a gente sentia o cheiro da terra molhada pela chuva, a brisa gelada no rosto depois de tomar banho, quando a gente comia nossa comida preferida, a sensação gostosa de deitar na cama e descansar depois de um dia cheio.

A alegria se tornou algo tão difícil de entender que nos tornamos efêmeros, nos tornamos finos, esticados como uma pequena porção de manteiga espalhada num pedaço muito grande de pão. Vamos ficando sufocados por nós mesmos.

Buscando refúgio em algo que não sabemos nem se vamos encontrar e nem mesmo o que é, aos poucos perdendo nossa própria essência, e nem mesmo sabendo explicar o que sentimos.

É, a alegria se tornou também algo efêmero, ou não é ela, fui eu que me tornei.

 
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Acerca do Tempo

Série "Poesias e Devaneios", Nº 30


Não podemos ver, nem sentir,
Não  podemos cheirar, não podemos ouvir.
Está sob as colinas e além das estrelas,

Fossas vazias - ele vai preenchê-las.

De corações antes cheios, que de amor esvaziara-las
De tudo vem antes e vem em seguida,

De cada espaço que do nada volta ao nada
De cada doçura e a beleza que se abandonam

Ele é a coisa que dizima tudo
As árvores, antes verdes, que se postam secas
Aço, ferro, da mais dura joia
E a mais dura das pedra por ele é macerada


Das maiores cidades de outrora

Dos menores devaneios dentro de si
De cada pedaço do caminho que você passou
E a alta montanha faz um campo, plano, nunca existiu


Se você um dia me disse, que não o sente passar
Ele passou, mas continua
Pois tudo no mundo é efêmero
Exceto ele, Tempo, senhor de Tudo

Pois por um só dia apenas nós existimos
Do sorriso finda na morte, é o fim da vida

"E nada, contra a foice de tempo, pode fazer defesa, salvo teus filhos, os quais permanecem, quando o tempo te leva daqui."


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Nem Amar Nem Sofrer

Série "Poesias e Devaneios", Nº 29



Tudo isso é bobagem, nunca passou disso.
Poderia arriscar uma palavra, ou outra.
Mandaria flores, ou uma carta?
Besteira!


Flores morrem, viram nada no final.
E cartas nunca conquistaram ninguém.
No final é tudo bobagem.
Porque a gente se esvai a cada segundo...
Como cada grão dentro de uma ampulheta.


No final é você, sou eu, mas nunca eu e você.
No final utopia vira distopia...
Que vira realidade no final das contas.
A mesma história se repetindo várias vezes.


Que seja realmente importante.
Que nem eu nem você, nenhum de nós.
Sejamos fracos, nem mesmo tansos.
A ponto de querer por algum momento.
Amar, e depois sofrer.


"Por mais rebuscadas que sejam as palavras, de nada adianta. De nada adiantaria despejar supostos sentimentos travestidos de letras."


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Confie em Mim

Série "Poesias e Devaneios", Nº 28


Nem na prática nem na teoria, precisa de mais nada.
Agora que você me iluminou, com o que você tem, seu amor imenso.
Tanto dentro como fora.
Confie em mim desta vez
Confie em mim porque

Confie em mim e verá
Confie em mim e não acabará mais....
Tenho um desejo escrito em um lugar bem guardado
Inclusive que já está voando
Meu pensamento não depende do meu corpo

Um grande espaço entre você e eu
Um céu abertos que já, haverá
Nos prende a nós dois, fortemente
Pois sabemos o que é necessidade

Viva minha vida sem medo agora
Que seja uma vida ou seja uma hora, um momento
Que sinta que eu poderei aparecer aí
Não deixe livre, aqui vazio, totalmente!
Meu novo espaço que agora é você. Eu te imploro!

Me viva sem mais vergonha
Mesmo que todo mundo esteja contra
Deixe a aparência e pegue o sentido

E sinta o que levo aqui dentro

"Me viva sem medo agora, mesmo que todo mundo esteja contra"


domingo, 18 de outubro de 2015

Jamais Falha

Série "Curtas", Nº 24


Sinto que estão me levando...
Mas eu não consigo ver
Já vi essa cena antes, várias vezes
Mas não desse jeito...
Porque estão correndo?
Eu sei que as emergências não salvam ninguém
Eu não to com medo
Meu coração jamais falha
E também não estou pronto pra morrer

"meu coração jamais falha"




quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Me deixe num canto

Série "Poesias e Devaneios", Nº 27


Se, por mil demônios, me encontrar num canto
Não chores por mim, não se dê ao trabalho
Não ampare o corpo que jaze no assoalho
Não se preocupe em me enterrar na vala
Na primeira oportunidade apenas me abandone
E se hesitar e ficar me encarando
Verá sua vida que também vai se acabando
Vai chorando, vai rezando
Sai correndo, vai embora procurar ajuda
Mas não me acuda. Eu morri.
Não estou ali, não preciso estar
Vou te agradecer, minha boa moça 
Se você apenas me deixar em paz.

Alice Gonçalves
"então me deixe aqui, me deixe num canto"

Carta: "Não querendo dizer"

Série "Cartas Perdidas", Nº 13



Céu Azul/PR - 03 de Fevereiro de 2006


Acho que talvez não importa. A gente realmente não queria chegar nesse ponto. Eu não queria, ou talvez nem você queria.

A verdade é que a gente pensa, pensa, pensa, e continua tentando entender como continuamos no mesmo lugar, a gente passa dos 35 anos e continuamos sendo adolescentes,  e ficamos no meio do caminho.

Mas de certa forma, não vamos nos entender, não nos amamos se não aprendermos a amar, podemos ser duas metades que se completam, e talvez nem mesmo nunca vamos nos encaixar. 

É nossa proximidade e nossa distancia, ela também machuca. O céu que olhamos é idêntico, isso me dói, saber que você ve o mesmo que eu vejo a noite, sendo que eu não vejo você, mas isso me deixa pasmo, os dias acabaram como folhas caídas de árvores, você aí, eu sem poder sentir nem sequer sua respiração.

Eu tenho medo, medo de que isso acabe me machucando, sendo que eu estou simplesmente  não sabendo o que dizer, mas na verdade eu tenho medo do “Eu te amo”, não pelo significado, pois seria tanto esse teu amor que mais desejaria, mas sim porque ele poderia talvez ser um efêmero dizer, talvez não queira dizer o que exatamente ele diz.

É mais profundo, não quero falar disso, mas de certa forma seja realmente o que eu queira dizer, mas não vou. As vezes temos raiva da gente mesmo, assim mesmo, mas não querendo dizer isso, eu te amo, mas não me importo se no fim isso não significar o que você quer que signifique, mesmo que não mude, é isso o que não deixo de sentir.
Não querendo dizer, mas eu te amo.

"talvez a gente tenha se perdido em algum lugar cada um foi pra um canto"


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Não Vamos Ver

Série "Curtas", Nº 23


Não vamos ver. Pode ser até engraçado, mas em relação às coisas boas, não estaremos aqui pra ver, as coisas belas novas interessantes elas ficam no futuro na vontade na esperança intangível elas são como estrelas sonhos distantes, não importa o quão belo são esses sonhos, é melancólico não poder alcançar.

Do mesmo jeito que eu mesmo, posso ser tudo nessa vida, mas jamais serei aquele que irá colocar os pés na tua casa, e nada do que foi planejado irá se concretizar, afinal. Nada disso vai sair do papel, e nem nos preocupamos com quais são as próximas questões. Não dividiremos nenhuma delas enfim.

Não vamos ver nada que possamos comemorar juntos, porque isso está fora de cogitação. Não vamos ver.


"Vou te poupar de qualquer despedida e ir embora..."

sábado, 10 de outubro de 2015

Ambos Somos Um

Série "Poesias e Devaneios", Nº 26


Um pé, depois o outro. Com um sempre atrás. 
Um liga mais, e o outro não quer amar de mais.
Não pensei em ouvir a tua voz
Não tão cedo assim pela manhã.
No amor se quer prever demais e esquece que dois "não são" um.

Um sofre a mais enquanto o outro se refaz.
Um valoriza o outro mais que a si mesmo, muito a mais...

Não pensei a tua voz, não tão cedo assim pela manhã.
No amor se quer prever demais e esquece que dois "não são" um.

E de repente o que era doce se acabou.
Quem nunca comeu antes quase infartou.
Viveu a ilusão de ser dono de alguém, para aprender que amar é não esperar nada.

Não pensei em ouvir a sua voz....não tão cedo assim pela manhã.
No amor se quer prever demais e esquece que dois "não são" um.

Maninho Melo, Rio Grande do Sul



"Não importa o que tu achas, amo-te"

domingo, 4 de outubro de 2015

Nunca vou parar

Série "Curtas", Nº 22


Nunca vou parar, até que eu conseguir o que quero
Nunca vou, parar até conseguir o que eu preciso
Caindo, de joelhos, se eu me quebrar?
Mas eu estou seguindo em frente!
Mas eu estou me segurando...
derramando o meu coração, cavando a minha alma!
Sacudindo a mim mesmo, me ouvindo, para mim
Expirando, Inspirando, expirando, olha pra frente, firme
Fechando meus olhos, olhando para dentro, para ver novamente
Para sentir novamente, para viver novamente, pra vencer!
Nunca vou parar


"Só vemos os obstáculos como coisas assustadoras quando desviamos o olhar do nosso objetivo."

sábado, 3 de outubro de 2015

Carta: "Não há distância"

Série "Cartas Perdidas", Nº 12


São José/SC - 15 de Outubro de 1995

Isso já foi longe demais para voltar atrás

Realmente cada vez mais vejo o que vamos construindo dentro de nós. Construindo sem de fato construir. É assim que vejo o que vem em mente sobre o que seria nós de fato. Não que tudo isso tenha sido planejado. De fato não foi. Não tem sido planejado, nem tenho planejado nos últimos tempos.

E realmente nem eu nem você, não pensamos onde isso poderia ter ido. A cada novo sorriso, um diferente do outro, cada risada, os sussurros durante a noite, falando baixinho no telefone, pra não acordar ninguém. A cada ideia cada pensamento cada detalhe. Tudo isso foi de fato preponderante.

Que quando eu disse que teria que ter coragem pra enfrentar uma distância grande, fui percebendo que a distância se tornou pequena, detalhe ínfimo, perante sua existência. Enfrento não só a distancia mas qualquer coisa.

E é engraçado como acontece isso com a gente, sem nenhum tipo de controle, criamos uma semente bem dentro do coração, ela cresce descontroladamente e vorazmente, que consome nossa alma, nos deixa tanso.

Não adianta fugir, eu tenho que simplesmente admitir toda essa loucura, estou disposto, você está, nós estamos. Entender o quanto te quero, que devo também admitir que sim, amo você! Simples e puramente um amor rasgado e sem subterfúgios.

Difícil demais inclusive esconder esse sentimento e simplesmente não falar, pra não perder você digo que te amo!

Sou grato por ter te conhecido, cada dia me sinto possuidor de uma sorte descomunal. Onde você esteve?

Não haverá distância que me impeça de sentir isso.
 

É isso, agora é inevitável, eu amo você.

 "Sou grato, todos os dias, por ter tido a oportunidade de te conhecer!"


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Ucronia

Série "Contos", Nº3


Eu caí de paraquedas aqui? Eu estou preso em mim mesmo, 14 anos mais jovem, presumo. Mas, estou confuso.

Olha... Tinha certeza que era apenas minha consciência, a essência de mim, que havia, de uma forma ainda não compreendida por mim, se transferido daquela forma. Uma pessoa adulta presa no corpo de um jovem pré-púbere.

Eu simplesmente me assumi em um mundo que já não era mais meu há muito tempo, tendo que repentinamente conviver com coisas que não tinha mais nenhuma paciência. Mas eu simplesmente tinha que aceitar.

A verdade é que não faziam nem 5 minutos, de certo. Muito confuso. A porcaria do colégio, porque exatamente a porcaria do colégio? Nem lembro direito se eu realmente gostava ou não, mas eu presumo, que nos conhecimentos atuais um colégio para um jovem de 14 anos deveria sim ser uma porcaria de fato.

Provavelmente não era horário letivo, talvez o intervalo... Talvez, talvez, mas na prática, exatamente...

Eu estou muito, muito confuso. Eu, eu... eu nem sei como eu vim parar aqui? É como se eu tivesse vivido uma vida de 28 anos, com tudo que tem direito a vida nada simples de um adulto comum, e estou aqui no corpo de mim mesmo, 14 anos de idade? Será mesmo que eu “vim parar aqui” ou na verdade eu REALMENTE tenho 14 anos e estou sofrendo de algum raro distúrbio que me condiciona uma mentalidade de um homem de 28 anos, sem contudo aferir lembranças reais?

Mas que grande porcaria hein? Melhor me sentar aqui no banco...

Pensar, pensar, pensar... se eu tenho, ou tinha, ou terei, foda-se... 28 anos, qual minha profissão? Quais minhas ideologias, meus sonhos? Quais meus ódios? Onde eu moro, que carro eu tenho? Eu sou pai? Minha esposa é bonita... minha esposa!!!... nossa de repente parece que algo me tocou, sentindo uma pontada, de repente me vem um pouquinho de lembrança... cheiros, um cheiro bom de cabelo feminino... eu com 14 anos não devo conhecer o cheiro de cabelo feminino, né? Então, na pratica, se as lembranças não forem fruto desse possível surto, essas lembranças não pertencem a hoje, agora, exatamente, no ano de... que ano é mesmo?

Melhor ir ali correndo na diretoria da escola tentar achar um calendário, eu lembro onde fica? LEMBRO! Deu um estalo aqui agora na minha mente, eu sei onde estou! De repente me vem uma lembrança, mas não vívida, simplesmente uma lembrança longínqua de quando eu estudava no Colégio Objetivo São Marcos, uma lembrança de mais de década, eu tenho um mapa mental perfeito dessa escola, e eu estou fisicamente nele nesse exato momento! As coisas são bizarras! Muito!

De repente minha mente começou a ficar um pouco menos nublada, porque fui caminhando pra diretoria pra tentar ver um calendário, me situar, não queria de jeito nenhum conversar com ninguém, e de fato ninguém ainda tinha vindo falar comigo (eu meio que lembro que não era lá muito popular, de fato, então meus temores vão se concretizando), mas simplesmente estava tudo errado naquele ambiente, não vi UM smartphone, ninguém com a cabeça enfiada nos malditos smartphones como eu sei que são os jovens (e até adultos), onde estão os smartphones? Realmente, tá tudo errado!

Melhor ir rápido pra secretaria! Rápido, muito rápido... O chão, o chão, o chão tá vindo ao meu encontro, rápido demais, MERDA!

Que puta tropeço! Sorte que não tem ninguém por perto, acho que estou no saguão principal, mas espera aí... alguém, um rosto amigo. Porra,é o Lucas! Como ele tá novo, parece criança! Ai! Que dor no cotovelo!

_Mas que tombo, hein? ‘Cê tá bem, cara?
_Ah sim, obrigado, me ajuda aqui a levantar.
_’Cê tá esquisito, muito esquisito, qual o teu problema, viado?
_Ham?... Ah nada não, nada.

Bati o olho do lado, um calendário, e ele parecia um objeto de uso diário e não um item de antiquário ou museu, mas não conseguia entrar na minha mente nem a pau, o desenho era uma ilustração de praia, em letras garrafais, dava pra ler perfeitamente: SETEMBRO, 2001, acho que dia 29... Puta que pariu!

Mas acho que o Lucas tá olhando pra algo que caiu do meu bolso, acho que é isso, ele foi ali pegar...

_Acho que esse trem é teu, parece um papel dobrado...
ERA UMA FOTOGRAFIA!

Um objeto que simplesmente não deveria estar aqui, agora comigo... Mas porque estava? Não fiquei pensando muito como estava, mas quando peguei da mão do Lucas e desdobrei a foto, pude ver, era ELA.

A foto! eu a memorizei, cada linha, cada centímetro do teu rosto, do teu sorriso, a expressão dela, tudo. Quase posso ouvir a voz dela. Está tudo na minha mente, guardado onde ninguém pode tirar ou destruir...

Fiquei um bom tempo, acho que talvez 30 segundos, ou foram 5 minutos? Olhando? Simplesmente não pude conter comecei a chorar quieto, essa foto havia sido destruída, e por que simplesmente surge nessa circunstância, ela não deveria estar aqui! É totalmente anacrônico...

_Cara, o que foi? Quem é essa mulher? O que você tem?
_Olha... nada

Cada linha, cada centímetro, exatamente como ficou gravado à fogo na minha mente, uma linda menina, nos seus 19 ou 20 anos, olhos cor de mel penetrantes, cabelos escuros, um sorriso cativante... uma data, anacrônica, 04/02/2014, a data que a foto foi tomada, mas essa data na ocasião de agora seria considerada uma montagem grosseira, como o Lucas já observou.

_Essa data está errada, apesar de quem é uma mulher muito linda. Quem é? É tua mãe quando era jovem?
_Não, essa foto na verdade eu havia perdido, ou pelo menos achei que tinha sido perdida pra sempre, é a lembrança que tenho de alguém, o único alguém de fato.
_Não entendi nada, por que você está falando desse jeito? Está louco?

Com certeza era difícil mesmo pra um jovem mancebo de 14 anos compreender uma fala com certa carga de analogia, mas não me importei.

_Lucas, entenda, você é meu melhor amigo, você é e será durante os próximos quatorze anos, pelo menos, entenda que eu perdi essa foto, agora eu encontrei, só isso já valeu a pena, e outra coisa, essa menina linda, ela nasceu em 27 de setembro de 1996, então ela existe, ela é REAL, está aqui. Achei que esse mundo era irreal, coisa de algum distúrbio da minha mente, mas não, ela é real, felizmente tudo pode ser diferente.
_Cacete, você fumou orégano? Tá doidão? Só não entendi uma coisa, ‘cê tá me dizendo que essa mulher aí tem cinco anos de idade, de acordo com a data de nascimento dela aí na tua cabecinha, não é mesmo?
_Sim, essa foto é uma Ucronia!
_Uma o que? Ah, vai se foder, vamos embora pra sala logo, vai tocar o sinal!
_Vamos, vamos, sim.

Vamos indo pra sala, vamos e eu não ligo, eu não a perdi. Nunca vou a perder, eu sei tudo que vai acontecer, e tudo pode ser diferente a partir de HOJE.

"Quase posso ouvir a voz dela. Está tudo na minha mente, guardado onde ninguém pode tirar ou destruir..."



domingo, 20 de setembro de 2015

Acerca da Nostalgia

Série "Reflexões Pessoais", Nº 19


Nostalgia é algo normal?

Assumo dizer que sim, ou até talvez, pois tendemos a olhar para o passado como um mar de rosas. Ficamos imaginando como seria se tivéssemos feito isso ou aquilo, lembramos de oportunidades.

É comum ver adultos falando “...ah como era bom quando eu era criança'', ''como eu queria voltar a ser criança''.

Ele esquece das limitações da criança e só lembra das partes boas ( brincar, correr , etc) e se esquece por exemplo que quando era criança não podia dirigir, não podia ir pra onde queria, tinha limitações sobre com quem falar, tinha uma vida controlada pelos pais até porque a criança não sabe o que é melhor pra si.

Quanto mais aprendemos e mais conhecemos o mundo, mais observamos as suas falhas, seus defeitos, sua realidade. Mais precisamos ficar atentos aos que nos cercam pra que não nos passem a perna. Mais subimos, e quanto mais subiu mais gente tem pra puxar o tapete. 

É saudade do sossego e da despreocupação que tínhamos quando da infância e adolescência. 

É isso que todo o cara quer, viver despreocupadamente e de modo sossegado. Porém, quanto mais a realidade se abre, mais amarga se torna e mais preocupados ficamos. O que fazer? Se armar, pra tornarmo-nos as melhores versões de nós mesmos, por isso o desenvolvimento pessoal, o aprimoramento contínuo e eterno enquanto durarem nossas vidas. 

A saudade da inocência e da burrice nos é boas lembranças, mas esquecemos de que por trás de cada ato besta e inconsequente que tomávamos quando crianças ou adolescentes, em quase todas as vezes haviam adultos ou outras pessoas para nos prevenirem das consequências e quando isso não era possível, minimizá-las.

Agora, como adultos, não podemos mais nos entregar a isso. É simplesmente isso, da juventude para frente a vida da pessoa é só dele, só depende dele e tanto o sucesso quanto os fracassos deverão ser agora administrados por um homem, e não uma criança descuidada ou um adolescente impulsivo. 

Essa saudade é um modo de comparação... Aquela comparação do antes e do hoje, onde tu se perguntas: "Como as coisas mudaram tanto? E por que eu mudei tanto? Há como voltar ao menos um pouco para isso?” 

E a resposta, queira ou não é um grande NÃO. Esse é o fardo da vida, do tornar-se homem. Não devemos fugir disso, mas olhar atentamente para isso e compreender nosso eu atual e do que necessitamos para enfrentar os obstáculos que temos e alcançar o que queremos, sem muitos descuidos, sem impulsividade e deixando de lado o que é ruim na inocência infantil para não nos prejudicarmos e tropeçarmos em nossos próprios pés.
Você acha que admira o passado e olha o mundo de cima, está errado. 

Você ainda está escalando a montanha da vida, há muito o que subir, mas ao invés de andar está parado admirando o que deixou para trás, quando a verdadeira maravilha é chegar ao topo e admirar tudo lá de cima.

Por isso não se prenda ao passado, foque no teu objetivo do presente. O que sobrará são pegadas que serão cobertas por neve e das quais somente você lembrará, pois só você as caminhou e viveu. Os outros podem lembrar das pegadas, mas não serão vivas como na tua lembrança.

É um paradoxo : Uma criança morrendo de vontade de crescer pra fazer coisas de adulto e um adulto querendo voltar a  ser criança porque era uma época sem responsabilidades. Como dizem , a grama do vizinho é sempre mais verde.



O tempo não comprou passagem de volta. Tenho lembranças e não saudades.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Destilando veneno ideológico

Série "Poesias e Devaneios", Nº 25


Idiotas úteis. Imbecis fanáticos, amam de paixão figuras usurpadas de semideuses profanos. A todo pulmão entoam malditos cânticos verborrágicos, carregados de discursos, cuja composição é puro ranço dialético.

Não sentem a vida pulsar na frente dos seus olhos, não há razão para o seu viver, seus olhos estão vazios, suas vidas desperdiçadas das formas mais vazias possíveis.

Suas bandeiras são tão cinzas quanto seus versos, tortos e mentirosos.

Seus manifestos, compêndios, manais, guias, diários, panfletos: um belo banquete pra traças.

Sua moral é imoral, seus valores são desvalorizados, não há objetivo senão destruir tudo que foi edificado, erigido por anos, décadas, séculos de trabalho árduo e duro.

Sua desonestidade tamanha, assustará o pior dos vigaristas inclusive.

Idiotas úteis, malditos seres parasitas morais, vocês são o fruto da decadência moral e espiritual de uma sociedade relativística.

Lutarei até o fim das minhas forças pra combater a existência de cada uma das suas ideias. Lutarei e estou lutando.


Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário.



sábado, 29 de agosto de 2015

Casualmente

Série "Poesias e Devaneios", Nº 24


Inevitável seria é se eu nunca mais te encontrasse, inevitável seria é se você se desintegrasse desse mundo, e dos meus pensamentos. Arrisco a dizer que o primeiro é mais fácil que o segundo.

O que dizer “oi” que quer dizer nada, ou não digo é nada, mas um “oi” esquisito sai... 
Digo “oi’ que quer dizer mais que qualquer poema de amor complexo, mas olha só...
Quando dizia que te amava, você dizia que me odiava, e quando eu perguntava porque você me odiava, a justificativa era porque você me amava.

Qual amor sobrevive à chamas imbecis de paixões imbecis? Eram paixões imbecis? Eram fortes ou efêmeras?

Já te disse que isso iria acontecer, e duvido, duvido muito que você não se abalou, não se comoveu com o simples “oi”, e realmente duvido...
Olha você pode achar que tudo é bobagem, eu não iria argumentar contra isso, mas só colocar a mão na consciência. 

Vamos achar os erros de ambos?  Não tenho a menor motivação pra isso...
Você segue olhando pra si e eu faço o mesmo, vamos existindo, fisicamente, e também dento um do outro.

"Quer que eu seja sua unica paixão? Acha isso possível?"

sábado, 15 de agosto de 2015

Acerca das Armas

Série "Reflexões Pessoais", Nº 18


Não digo que as guerras seriam totalmente inevitáveis. Infelizmente isso não é possível, nem que seriam desejáveis, muito menos isso.

Não irei brandir uma espada com prazer, não irei sangrar a carne com deleite. 
Não importa o que será dito a respeito. Sou pacífico, nunca serei pacifista. Jamais. 

Minha espada, atemporal, minha arma, a lâmina, ela pode variar na forma e no funcionamento. Se hoje carrego uma pistola semiautomática, eu carregaria há uns 600 anos atrás talvez uma boa e aguda lâmina.

lâmina, pesada o suficiente pra cortar o pescoço de quem queria fazer o mesmo comigo.

Não é seu pacifismo que me irrita. Você não almeja paz, você almeja, sobretudo, poder. Poder hipócrita.

Não estou aqui pra instaurar o paraíso, mas pra impedir que o inferno se instale de vez, pois ele está na iminência.

Seus argumentos não encontram respaldo na realidade, simplesmente isso. 
Não amo a capacidade que as armas tem de potencial ofensivo. As admiro por sua precisão e engenhosidade. Precisão desde de uma lâmina pesada como uma clava e tão afiada como um bisturi cirúrgico. Engenhosidade de uma arma de fogo automática moderna. Elas são ferramentas, extensão das nossas intenções.

Não amo as armas por que elas matam, eu amo o que minhas armas defendem.

"Todos os profetas armados venceram, e os desarmados foram destruídos."