sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A Destruidora de Mundos

Série "Poesias e Devaneios", Nº 31


Lembro bastante, como esquecer? Cada traço de lembrança sórdida.
100 milhões de toneladas do puro ódio. 
Lenta e silenciosamente rastejou para cima…
Lenta e silenciosamente tornou tudo a nada...

E misturando-se a camadas mais grossas das nuvens, prosseguiu a subir e a aumentar. 
Parecia sugar toda a terra nele. O assombramento foi fantástico, irreal, sobrenatural.
Enorme clarão sobre o horizonte, e após longo período ouve-se um sopro distante e pesado. 
Como se a terra tivesse sido morta

A neve derreteu, as bordas e as rochas ficaram brilhantes como se fosse lapidadas. 
Não há um traço desigual sequer, tudo moldados por mãos divinas talvez.
As nuvens a uma grande distância abaixo e acima foram iluminadas pelo clarão do fogo.
E por um instante tornaram-se transparentes.

A propagação da luz incandescente sobre o mar. 
Impressionante indizível.
Nesse momento por maior e mais grosseiro que fosse, tudo se tornou tão delicado como pétala de rosa.
Por um instante, um pico segundo, pra depois os sonhos dissolver.

Sabíamos que o mundo não mais seria o mesmo. 
Algumas pessoas riram, algumas pessoas choraram, a maioria ficou em silêncio.
A alma se desnuda no puro ardor hecatombico.
De longe, ou de perto, não importa.

Nada mais importa, o amor, a dor, a esperança, saudade e sonho.
Nada mais importa, fundem-se corpo e alma em fogo puro. 
Agora, eu me tornei a Morte, o destruidor de mundos...
Suponho que todos nós pensamos isso, de uma maneira ou de outra...


"A esfera era tão poderosa e tão arrogante como Júpiter."


sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Alegria se tornou efêmera?

Série "Curtas", Nº 25


Acabo me lembrando de como a alegria se tornou complicada de ser sentida. Era tão simples e agora é complicada, muito complicada.

Simplesmente a gente sentia o cheiro da terra molhada pela chuva, a brisa gelada no rosto depois de tomar banho, quando a gente comia nossa comida preferida, a sensação gostosa de deitar na cama e descansar depois de um dia cheio.

A alegria se tornou algo tão difícil de entender que nos tornamos efêmeros, nos tornamos finos, esticados como uma pequena porção de manteiga espalhada num pedaço muito grande de pão. Vamos ficando sufocados por nós mesmos.

Buscando refúgio em algo que não sabemos nem se vamos encontrar e nem mesmo o que é, aos poucos perdendo nossa própria essência, e nem mesmo sabendo explicar o que sentimos.

É, a alegria se tornou também algo efêmero, ou não é ela, fui eu que me tornei.

 
"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música."

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Acerca do Tempo

Série "Poesias e Devaneios", Nº 30


Não podemos ver, nem sentir,
Não  podemos cheirar, não podemos ouvir.
Está sob as colinas e além das estrelas,

Fossas vazias - ele vai preenchê-las.

De corações antes cheios, que de amor esvaziara-las
De tudo vem antes e vem em seguida,

De cada espaço que do nada volta ao nada
De cada doçura e a beleza que se abandonam

Ele é a coisa que dizima tudo
As árvores, antes verdes, que se postam secas
Aço, ferro, da mais dura joia
E a mais dura das pedra por ele é macerada


Das maiores cidades de outrora

Dos menores devaneios dentro de si
De cada pedaço do caminho que você passou
E a alta montanha faz um campo, plano, nunca existiu


Se você um dia me disse, que não o sente passar
Ele passou, mas continua
Pois tudo no mundo é efêmero
Exceto ele, Tempo, senhor de Tudo

Pois por um só dia apenas nós existimos
Do sorriso finda na morte, é o fim da vida

"E nada, contra a foice de tempo, pode fazer defesa, salvo teus filhos, os quais permanecem, quando o tempo te leva daqui."