terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Carta: "Conclusões óbvias"

Série "Cartas Perdidas", Nº 15


Araxá/MG - 15 de Maio de 2002


Costumava sempre te dizer que as pessoas, sabe, elas inevitavelmente apaixonam.

Sim, isso vai acontecer independente do quão frio ou quão soberbo você for. A frequência  que isso acontecer vai depender da maleabilidade do seu coração e seus sentimentos, porém curiosamente o quão mais duro for o coração e o quão menos maleável forem os sentimentos, mais forte e marcante vai ser essa paixão que vai surgir. 

A inerência da impenetrabilidade torna aquilo que a penetra algo indubitavelmente forte.

Visto isso e tendo em vista o que (pouco) já vi, a gente vê que as reações são realmente claras.

Em uma contrapartida, você mesma disse uma vez que “gosta de minhas palavras”, por mais que eu tenha serias duvidas a respeito disso.

Um refúgio, uma ilha em um oceano desértico de confirmações do que eu já nem me preocupo mais, muito me espanta você gostar de “palavras”, pois de igual forma eu também gosto muito de “palavras” de pessoas que já se foram a praticamente 400 anos atrás, como o próprio Shakespeare, o qual escreve “Pois as graças do mundo em abandono, Morrem ao ver nascendo a graça nova. Contra a foice do Tempo é vão combate, Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.”.

Porquanto muito lhe são aparentadas as palavras de pessoas românticas que outrora existiram, hoje nem existem mais. Porquanto muito é interessante eu pensar que, enquanto embalado por baladas românticas oitentistas eu penso que utopia é realidade, mas eu obviamente sei que não é.

E como posso concluir, não sou nem mesmo o mais conhecido, mais bonito, mais romântico, mais habilidoso, nem a melhor pessoa que vai passar pela tua vida, tirando o fato de “passar pela tua vida”, sendo que sequer passar, só vou despejar meu niilismo eterno de saber que conforme profetizado por  “versos íntimos” como foi dito em “Vês! Ninguém assistiu ao formidável, Enterro de tua última quimera.” 

Algumas poesias niilistas fazem todo sentido e  que conduz-se facilmente a crença alheia quando se tenta direcioná-las no rumo de suas tendências naturais: seus desejos e medos, e as pessoas acreditam facilmente no que temem e no que desejam, não há conclusão.

E quando um "eu te amo" não é mais realmente um "eu te amo" porque ele foi jogado ao vento, esquece e desconsidere.

Não há conclusão senão a óbvia por trás dessa carta tão prolixa.



"um mundo de água onde você sabe que morrerá de sede se nele ficar, algo sem fim sobre o próprio fim de algo."



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Carta: "Não é a imagem que eu tenho de você, é você!"

Série "Cartas Perdidas", Nº 14


Água Clara/MS - 10 de Setembro de 1999

É algo que praticamente ninguém nota, praticamente é ninguém mesmo, mas não quer dizer que inexista, mas sim tem a ver com o quanto eu escondo isso de tudo e de todos. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta o que posso descrever como uma "ebulição" dentro de mim, e mais aumenta a graça em poder te viver!

E a simples expectativa de ter você por perto, de só de saber que você está na iminência de trocar um olhar comigo? O coração dispara, e em atropelo ele quase para, algo infantil, quase primitivo.

E cada vez que você estava, perto ou não, pode estar cada vez mais forte dentro de mim, coisa rara de acontecer, você martelando em minha mente 24h por dia, e fazendo meu coração martelar ainda mais forte, por consequência.

Você me olhou? Com os olhos olhava o que eu não sei bem, olhos de águas vindas de outros oceanos. Quem sabe seria com você, que eu poderia ter todas as tardes, aquelas que sempre me faltaram, como miragens, como invenção. Se eu não posso ter, eu fico imaginando, eu fico me perguntando, se as simples palavras, pois sei que são meras palavras, causam algum efeito sequer em você. 

Portanto tudo isso que eu sinto, tudo é algo que cresce sem meu consentimento. Desculpa, não pude impedir. Eu amo você.


"eu nunca vou me despedir de você"