quinta-feira, 14 de julho de 2016

Carta "Já faz um tempo.."

Série "Cartas Perdidas", Nº 20


Paraopeba/MG - 13 de janeiro de 2004

Sabe... Já faz um tempo que estou de volta em casa... E... Por tempo demais tenho relutado em lhe escrever... Mas agora, enquanto a silenciosa chuva insiste em cair lá fora nessa fria noite de maio, sinto-me na necessidade de transcrever tudo aquilo que tanto me ocupa a mente, martelando-a incessantemente.

Falando a língua de uma simplória adolescente, já faz um tempo que as coisas mudaram e acho que só eu não havia percebido. Já faz mesmo um tempo desde que o acaso tratou de nos apresentar, como meros amigos, e acabou por nos unir tão intimamente... E, neste momento, me pego nesse silêncio que tanto me incomoda, a ponto de eu mal funcionar, pensando em tudo...

As gotas que escorrem pela vidraça me trazem à lembrança teu riso tão sincronizado com o meu... Lembra-se das madrugadas gargalhando das piadas bobas..? Éramos apenas dois loucos (e olhando de perto, quem é normal?). Lembra-se das muitas mensagens de carinho trocadas nas noites de insônia? Lembra-se da última vez que esteve por perto? Foi esta a primeira vez que voltei a amar... E é estranho como o tempo passa tão rápido.

Eu acho que você deve estar ciente de que guardo todos os teus sorrisos em meu pensamento... E sabe, a cada vez que o telefone toca, sinto sua falta. Apesar de soar clichê, sinto MESMO sua falta.. Mas, ainda assim, ainda com toda essa vontade de te ter por perto, tenho medo... Tenho medo de que tudo se repita e que eu não seja capaz de suportar a dor uma vez mais. Tenho medo de que não conseguirei reencontrar-me frente à novas perdas... Tenho muito medo de que tudo seja tão passageiro tal qual é a vida.. Porque, é inevitável, eu sei, mas não quero me permitir sofrer. Só que, mais importante, não quero também que você se machuque. Não de novo. Não dessa vez..

Sabe o que mais? Pode parecer exagero - ou aquelas frases de boba apaixonada - mas eu sacrificaria minha felicidade para ver a sua.. Porque isso é importante pra mim. É sério! Simplesmente penso que tenho demasiada empatia por tudo isso a ponto de me esquecer de mim, não dá pra diminuir a intensidade de algo tão forte como o que sinto. E isso me apavora...

Não sei bem o que dizer, enfim... Talvez seja tudo isso apenas um sonho. Talvez nada disso faça sentido. Mas não há mesmo muita coisa que faça, nesse estado ilusório ao qual somos submetidos. Contudo, reitero: eu ainda estaria aqui mesmo com toda essa loucura...


P.S.: meu som preferido continua sendo o do teu riso.

"Eu ainda estaria aqui mesmo com 
toda essa loucura..."

domingo, 10 de julho de 2016

Esquinas e amores

Série "Poesias e Devaneios", Nº 36


Porque em cada esquina, em cada lacuna
Ruas vazias, a rua escura
Vento gelado, saudade batendo
Amor solitário, amor de loucura

Dia batendo, noite sem fim
fera rugindo, rubor pulsando
Sei de você não sei mais de mim
Sei de nós dois, paixão exalando

Minha presença, se faz tão presente
e sua ausência, em mim tão crescente
Em rondas sem fim, serei nobre infante
Em seu coração, seu mais doido amante

 
Pois que no fim tudo muda
Não haverá mais temor
Pois de ti mesmo só quero
O seu mais forte amor

Não temo minha morte
Nem da vida o rechaço
Pois vou te prender
Pra sempre no meu abraço 

 "Te prenderia pra sempre em meu abraço."


 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Doce e singular existência

Série "Curtas", Nº 31


Incógnitos são os paradoxos dessa existência. Se há algo sincronicamente complexo e simples, esta é a vida e seus fatos. Tão persistentes, mas ainda assim tão submissos ao imaginário.

Inúmeras são as fantasias, catalisadas como fato abstrato ligado ao fluxo ininterrupto do transcorrer existencial, estimulante das paixões - abstratas - camufladas nos corações.

O apego, intrínseco à natureza humana, progride à medida que se traz à tona a rendição de uma alma. Acrescentam-se ou retiram-se os fatos (em meio ao conflito de cada ser), nessa contradição irremediável em que se deve mergulhar buscando sua harmonia.

"O universo é uma harmonia de contrários." (Pitágoras)